I.
se tens, amor, um bacamarte
mira mas não erra.
na cabeça uma sentença:
nas têmporas da temperança
deixe o sangue arbitrário
validar o signo oportuno
no gosto do coração que avança.
se tens, amor, algum punhal
permita-se fincá-lo nos
umbrais da alegria
desses dias em que sorris
como em sonho & possibilidade
II.
mas se nada trazes nas mãos
além dos nós, das falanges tristes
se nada tiveste nas tuas andanças,
na tua alforria
venha assim mesmo: amor
como se nada soubesses de nós
e da morte, do degredo escapaste
como puído o destino das tuas rotas
ou incerto o desejo dos teus gestos...
vens, branda mas ligeira
aplaca o que de mim não se apascenta:
o calor das tardes, o tácito gosto dos meus medos
e acalanta minha insensatez
III.
a respeito da vida conheço os pormenores,
o que fica tangente, espaço de fuga, à deriva no peito
e sei também do que se perde pelos cantos empoeirados,
onde range um sentimento ermo ou delicado.
a respeito de ti, meu corpo sugere a presença:
abismo, ecoando as cores do tempo,
pedindo licença para estar
sujeito às manifestações do ser.