sexta-feira, setembro 07, 2012

Para Ler Fernanda Paz

há uns versos que me deixam
no limiar da dor e do prazer
redentores
padres-nossos
me absolvendo de pecados íntimos
- água-benta num dia de calor
para me livrar dos males
da própria existência

estes versos
por descuido talvez
me cortam a pele
ou se chocam em meus sentidos
deixando hematomas
feridas abertas
ecoando nas possibilidades
da minha poesia tão pobre
e tão mesquinha
para depois se desprenderem
como folhas
(e o descaso dos meus quereres)
e se deixarem ecoar pelos meus
olhos retinas pálpebras e descer
boca murmurando palavras
garganta embargada

repito às rebeldias do sangue
às bebedeiras da vida
ou às lembranças intermitentes
que esses versos me galanteiam
e depois vão embora
como o dia
a tarde que me imprime cores rotineiras
a noite feita de misteriosos desejos
e o grito surdo que escondo
nas palavras que escrevo

e me calo depois
porque é permitido o silêncio
olho o distante
(e não posso falar-te, gesto contido
pela situação)
compreendo tua língua
e tatuo em mim essa coisa
que não se escapa
esses versos que não são meus
esse teu cotidiano
no qual me reconheço
e vivo
e canto
e guardo
como um bilhete bem dobrado
no bolso da camisa que não pretendo tirar.