um poema clandestino
pede para ser escrito
sem forma prescrita
sem erudição
um poema clandestino
(sem nome naturalidade
ou data de nascimento)
deseja apenas vir ao papel
e face ao descontente
despejar-se amiúde
um poema clandestino
voz de qualquer lugar
escondido na periferia
da felicidade
reúne-se com seus pares
outros poemas
(sem credo raça ou sexo)
e aprende uma língua diferente
a língua dos poetas clássicos
e chora acende vela
e pensa no dia de amanhã
num subemprego da palavra
com medo da deportação
o poema clandestino
se abriga em muquifos
(sem número gênero ou grau)
e sonha com a família distante
de todas as eras
e distâncias
que despacham poemas clandestinos
se enfiam em fronteiras
e morrem
poemas clandestinos morrem de
saudade
compondo breviários
à vida.