sábado, novembro 27, 2010

Sobre teu corpo, menina.

Sobre teu corpo, menina,
Me deitarei manso,
Como o sol que
Se põe à Terra, lentamente,
Recolhendo a luz do 
Céu, no escuro, no quarto.
Sobre teu corpo, menina,
Espalharei cores quentes,
Numa tela envolvida com laços
Dos nossos cabelos, ainda juvenis.
Sobre teu corpo, menina,
Dormirei sonhoso de um
Novo dia, um outro carnaval,
Máscaras & samba:
Brincaremos em dias desgovernados.
Sobre teu corpo, menina,
Não há mais o que dizer
Além de corpo, matéria, microcosmo
No teu corpo, menina,
Explodindo big-bangs,
Recriando tal qual deusa uma nova vida.
Fiat lux!
E rompemos o dia.

domingo, novembro 21, 2010

pós-poema dialogal

u.u
õ.ô
¬¬
:x
;)
=]
^^
*-*

sexta-feira, novembro 12, 2010

Receita para Camila (ou poesia reincidental)

Pegue meio tanto de qualquer coisa &
Junte um quarto de sol primaverado
Muitos quilo-metros de pensamentos
Alguns dissabores pra contrabalancear
E um céu azul de Vida propulsora doida latente
                                    [vida brincando de menina entre explosões.
Agrupe tudo em alguns sorrisos.
Misture alegria/sonhos/canções
Acrescente, para não se perder, uns e outros projetos
E espere o tempo aprochegar
Sirva quente, passional.
Rende muitas porções de
Não-sei-o-quê
De experiência.

quinta-feira, novembro 11, 2010

Ora

o sangue que me toma a boca
é a minha poesia cotidiana
que me insurge o peito
que me escandaliza o pranto
que me escraviza e goza em mim.
a boca que sugere o cigarro
que me impede o morno sorriso
brinca sobre um tecido vermelho-decomposto
Ora (direis) ouvir estrelas!
hora de expiar, berrando murcho sobre a lajota encerada
poesia encerrada
Ora, direi, ouvi o sexo repugnante dos astros
                          [anarquistas vagando apáticos pelas rotas dos gemidos infantis.
febril canção dos odiosos ratos que se vingam e se vendem
à poesia que me toma a língua e me dá de comer:
EU, doido nome em vão
EU, vísceras encruzilhadas
EU: antibiológico, antibiônico, antibiótico,
Oro ao deusimbiose doente e desvirtualizado

quinta-feira, novembro 04, 2010

Fragmentos.

A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é a arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência, nem uma estética, nem uma teoria. Pede-me antes a intereza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe, e dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca durma, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta.
Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala duma vida ideal mas sim duma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão.
É esta relação com o universo que define o poema com o poema, como obra de criação poética. Quando há apenas relação com uma matéria há apenas artesanato.
É o artesanato que pede especialização, ciência, trabalho, tempo e uma estética. Todo o poeta, todo o artista é artesão duma linguagem. Mas o artesanato das artes poéticas não nasce de si mesmo, isto é, da relação com uma matéria, como nas artes artesanais. O artesanato das artes poéticas nasce da própria poesia à qual está consubstancialmente unida. Se um poeta diz "obscuro", "amplo", "branco", "pedra", é porque estas palavras nomeiam a visão de mundo, a sua ligação com as coisas. Não foram palavras escolhidas esteticamente pela sua beleza, foram escolhidas pela sua realidade, pela sua necessidade, pelo seu poder poético de estabelecer uma aliança. É da obstinação sem tréguas que a poesia exige que nasce o "obstinado rigor" do poema. O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos. O equilibrio das palavras entre si é o equilibrio do momentos entre si.
E no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço meu caminho, o meu reino, a minha vida.

(Sophia Andresen - Arte poética II)