sábado, outubro 22, 2011

Refúgio

Olho para a direita e vejo: não há ninguém que cuide de mim.
Não existe para mim um refúgio,
ninguém que se interesse pela minha vida.
(Salmo 141.5)

o meu peito tem meandros onde se perdem amores e canções
dentro da tarde eterna tarde que faz em mim
percorro e tateio passados e poesias
perdidas ou rasgadas
um sonho qualquer habita a casa abandonada
a velha casa das lembranças
um sonho qualquer é um sem-teto
a vida sem identidade
e o corpo é templo sagrado do espírito de porco
o meu peito tem desvios abismos tem chão rangendo implorando
passos toques e um grito um grito de versos
um grito sem métrica e sem potência ativa transformadora enérgica
ecoa dentro de mim
e eu escuto meus antepassados naufragando em mares
e eu ouço trotes de cavalos
os sem destino mato-adentro
os sem deus branco flechas-afora
e peço para que os poemas que um dia li acendam as luzes
pois ando no escuro
dentro de mim
não há lugar para os que estão fora
não há fora quando não se há muros
não há muros quando o que nos resta é a parca
vontade de se explodir todo
para que a voz alcance o mundo
e haja refúgio no tempo