Palavra foi feita para dizer.
(Graciliano Ramos)
Poesia não se faz com versos.
(Torquato Neto)
Cala-se o eu e o verso em mim.
O poeta, que é o resultado da poesia,
Há de ser somente instrumento
Da língua que tudo diz e tudo cala.
Poeta não é quem escreve rimas,
Poeta não é quem expressa sentimentos,
Poeta não é quem ama, ou crê que ama:
O poeta deverá ser o filigrana esquecido sobre a vida.
O poeta será o último retrato que se rasgou.
O poeta, seja o que for, será rei cego em terra de olhos.
E que a poesia sobreviva às bombas holofotes amores
Versos tolos e um tanto de dispensa oculta de ego.
Que a poesia se safe dos arranhões espinhos fossos
Armadilhas ilusões devaneios encomendados.
Que a palavra venha, e que eu permaneça inter-calado.
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
quarta-feira, fevereiro 23, 2011
Três Haikais Expirados
I.
Tu sai com tuas "nêga"
Depois vem pedindo arrego
Desse jeito, não!
II.
Cuspindo poesia
Nossa! Má educação:
Verso um tanto sujo.
III.
Falta algo no texto
O que falta está em ti
Pronto: Falta fé.
Tu sai com tuas "nêga"
Depois vem pedindo arrego
Desse jeito, não!
II.
Cuspindo poesia
Nossa! Má educação:
Verso um tanto sujo.
III.
Falta algo no texto
O que falta está em ti
Pronto: Falta fé.
terça-feira, fevereiro 22, 2011
Poema Saudoso
Quando você vier,
Seja como o sol
Que nasce lentamente
Carregando as horas
Num embalo leve.
Seja como o fruto maduro
Colhido no tempo farto.
Sê a que for.
Quando você partir
Vá pelas sombras
Dos meus modos nodosos
Num passar saudoso.
Vá num adeus doce
Como a última folha
De um outono breve.
Sê a que foi.
Seja como o sol
Que nasce lentamente
Carregando as horas
Num embalo leve.
Seja como o fruto maduro
Colhido no tempo farto.
Sê a que for.
Quando você partir
Vá pelas sombras
Dos meus modos nodosos
Num passar saudoso.
Vá num adeus doce
Como a última folha
De um outono breve.
Sê a que foi.
domingo, fevereiro 20, 2011
Poema Grave
A Antônio Sodré
O tempo te levou
Numa sexta-feira de verão.
O céu estava grave,
E você, sobre o inextricável destino,
Passou breve, sonhador.
A poesia que te viu
Fechou os olhos,
Mas abriu a boca num grito hermético:
Transmutou-se, enfim, poeta.
E a vida passava na tua charla;
Na barra da calça dobrada;
Nas tuas músicas, teu passo lento;
Na tua solidão.
O tempo te levou
Numa sexta-feira de verão.
O céu estava grave,
E você, sobre o inextricável destino,
Passou breve, sonhador.
A poesia que te viu
Fechou os olhos,
Mas abriu a boca num grito hermético:
Transmutou-se, enfim, poeta.
E a vida passava na tua charla;
Na barra da calça dobrada;
Nas tuas músicas, teu passo lento;
Na tua solidão.
sexta-feira, fevereiro 18, 2011
Poema Para O Amor Que Virá
São Horas. É tarde.
Espero à porta, ansioso,
E o amor tarda em chegar.
Virá como das outras vezes?
O novo amor será hóspede.
A janta está pronta, a luz acesa
Janelas abertas recepcionam sua chegada.
Mas o amor talvez não saiba vir.
O amor se perdeu nos caminhos,
Ou passou direto, me deixando aflito.
Enderecei-lhe cartas com versos decassílabos,
Selei e destinei. Mas o amor não cumpre destinos
Nem ditados, nem direitos.
Seguro nas mãos meus poemas ainda não escritos.
Janelas acesas pro mundo, luz em mim.
Mas o amor tarda em chegar.
Talvez chegue atrasado:
O amor, às vezes, se atrasa.
Espero à porta, ansioso,
E o amor tarda em chegar.
Virá como das outras vezes?
O novo amor será hóspede.
A janta está pronta, a luz acesa
Janelas abertas recepcionam sua chegada.
Mas o amor talvez não saiba vir.
O amor se perdeu nos caminhos,
Ou passou direto, me deixando aflito.
Enderecei-lhe cartas com versos decassílabos,
Selei e destinei. Mas o amor não cumpre destinos
Nem ditados, nem direitos.
Seguro nas mãos meus poemas ainda não escritos.
Janelas acesas pro mundo, luz em mim.
Mas o amor tarda em chegar.
Talvez chegue atrasado:
O amor, às vezes, se atrasa.
terça-feira, fevereiro 15, 2011
Mentira.
O poeta é um fingidor¹
Eu sou a mentira escrita
Em versos brancos.
A mentira que vira poesia
Cotidiana,
A celebração do falso,
O mito midiático.
Eu sou a mentira revelada,
Indisposta,
Conveniente e pré-moldada.
Eu escrevo inverdades,
Eu conto anedotas,
E tu crês.
Faze de mim reza,
Ladainha,
Faze de mim seu credo unânimo,
Sua tábua de salvação.
Faze, e deixe-me fazer versos tolos.
Debandados.
Idiossincráticos.
E eu recordo todos os versos já escritos em
[tabacarias, livros náufragos, folhas paulistanas e em mim.
¹Autopsicografia. Fernando Pessoa.
Eu sou a mentira escrita
Em versos brancos.
A mentira que vira poesia
Cotidiana,
A celebração do falso,
O mito midiático.
Eu sou a mentira revelada,
Indisposta,
Conveniente e pré-moldada.
Eu escrevo inverdades,
Eu conto anedotas,
E tu crês.
Faze de mim reza,
Ladainha,
Faze de mim seu credo unânimo,
Sua tábua de salvação.
Faze, e deixe-me fazer versos tolos.
Debandados.
Idiossincráticos.
E eu recordo todos os versos já escritos em
[tabacarias, livros náufragos, folhas paulistanas e em mim.
¹Autopsicografia. Fernando Pessoa.
domingo, fevereiro 13, 2011
A massa
A massa se ama.
A massa amassa
Moças, maços de messes:
Ameaça e ama. Se
A massa amasse
Omissa...
Mas cessa e some.
A massa amassa
Moças, maços de messes:
Ameaça e ama. Se
A massa amasse
Omissa...
Mas cessa e some.
sexta-feira, fevereiro 11, 2011
Poema Para Uma Relação Incompleta
Sou botão preso à casa.
E a linha que perpassa o vácuo
Segura-me, ajustado, ao ponto ideal.
Mas num momento qualquer,
Num gesto inseguro ou num toque firme,
Me deixam solto. Tu, casa. Eu, botão.
Longe de ti, interrompido pelo peito,
Sou coisa a tôa, ninharia, preso à linha.
E tu, casa aberta, esperando a noite
Que chega e nos separa, e cá ficamos:
Jogados sobre a cama, abandonados.
Espero a nova manhã em que eu, contigo,
Unindo duas partes de uma coisa só
Estaremos juntos.
Mas você casa.
Eu, no caso, botão.
E a linha que perpassa o vácuo
Segura-me, ajustado, ao ponto ideal.
Mas num momento qualquer,
Num gesto inseguro ou num toque firme,
Me deixam solto. Tu, casa. Eu, botão.
Longe de ti, interrompido pelo peito,
Sou coisa a tôa, ninharia, preso à linha.
E tu, casa aberta, esperando a noite
Que chega e nos separa, e cá ficamos:
Jogados sobre a cama, abandonados.
Espero a nova manhã em que eu, contigo,
Unindo duas partes de uma coisa só
Estaremos juntos.
Mas você casa.
Eu, no caso, botão.
quinta-feira, fevereiro 10, 2011
Fragmentos.
"Talvez, num lugar que não conheço, aonde nunca irei, more alguém que está à minha espera... E que jamais verei, jamais..."
(Guimarães Rosa - Sagarana)
terça-feira, fevereiro 01, 2011
Genuflexo
O Sol nasce na janela insensível.
Pergunto a Deus se há motivo para que
[as coisas estejam como estão.
Não ouço a resposta. Talvez nunca ouvirei.
O céu me pergunta se há chuva em mim.
Já não importa.
Este é o tempo de poemas breves, amor escasso e vias de regra.
E, à tarde, num genuflexo pomposo, o Sol se porá.
Pergunto a Deus se há motivo para que
[as coisas estejam como estão.
Não ouço a resposta. Talvez nunca ouvirei.
O céu me pergunta se há chuva em mim.
Já não importa.
Este é o tempo de poemas breves, amor escasso e vias de regra.
E, à tarde, num genuflexo pomposo, o Sol se porá.
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