terça-feira, janeiro 10, 2012

Adeus, Maria

Partiste, minha vó. E, contigo, partiram as coisas inexplicáveis desse mundo. Partiste, como partiram as luzes de natal que enfeitavam a varanda. Partiste, como as espécies de plantas que habitavam teu jardim da frente, já desolado pelo tempo. Em tua partida também partiu a parca lembrança dos nomes dos netos (quem dirá dos mais contemporâneos?). Com tua partida, a partida do louro e do cão, cujos nomes  me esqueço - mas preservei o medo pelos bichos então misteriosos. Partiste e a roda do chimarrão dissipou-se. Partiste, minha vó, e já não me resta a imagem do teu espectro, quando as luzes da casa estavam para se apagar, segurando cobertas e esperando que todos dormissem, para que houvesse o teu descanso. A tua partida levou também o lenço com que amarravas os cabelos, tão longos cabelos. Partiste, e deixaste a casa vazia. Deixaste a roseira, a água para passarinhos, deixaste teu quintal imenso, teu milharal, deixaste tristeza conosco. Não me despedi de ti, minha vó, como deveria ser. Sequer sofri ou chorei pela sensação de um vazio, um abraço com o qual contávamos sempre, nós, teus netos. Partiste e já não sei pensar como serão as coisas daqui para o futuro. O que me ensinaste, durante tantos anos, foi a obediência à palavra, tua palavra. Tu foste a derradeira, minha vó. E, de ti, saudosamente, me lembrarei sempre da brincadeira de criança:

pinhé, pinhé, pinhé.