quinta-feira, setembro 26, 2013

Pele

Tua pele fissura
E pelo abismo
Desvendado de manhã pela primavera
Surgem
- Aos poucos, como folhas soltas no chão de palavras,
Guerras amores pecados capitais
Humanidades
Explodimos canções, amor,
E tocamos o indelicado momento
O sine qua non
(A existência das tardes de descobertas incólumes, pronunciadas por essa língua que cria e destrói apaga e colore)
Silencio!
Corre pela superfície do meu corpo-estado
Um rio intermitente
Atravessa minhas planícies e vales
Escondido pelo tempo:
Seca inverno terra
- Ter havido em mim todas as disposições
E agora hachuras de versos
Ter calado em nós todas as circunstâncias
Fronteiras e declínios
Pudera.

E, depois de nós,
Adiante ali onde as coisas não se explicam

O sol.

terça-feira, setembro 10, 2013

amor e outras coisas nº 4

O amor trafega pelas vias empoeiradas
Toma um desvio
Segue sempre pela pista da esquerda
Onde demais coisas transitam lentas
Anunciando curvas
E repetindo sinais

Estaciona em local proibido.

O amor vem com direção e câmbio automático
O amor precisa de ar
Mas não de travas
O amor tem uma potência de 300 cavalos
Faz 35 Km/L e

Quando arranca, o amor dói.

Balanceado, o amor dura
Alinhado, tem bom desempenho

Mas pode bater ou capotar.

E o amor se amassa:
Às vezes tem conserto,

Leva tempo.

Às vezes.





terça-feira, setembro 03, 2013

Ecrã

Bruxuleavam meus olhos
Respaldados pelo pianíssimo
Que se concentrava
No embargo de minhas orações
Na meia-luz do meu ecrã
No quase transponível gosto

- Outrora me abrigavam as diásporas
Arames; farrapos de condições
E rompíamos o acaso, os muros soletravam
Palavras de ordem. Lembras-te?
E o mundo
(não o cantamos!)
Construiu para si arranjos
Incompreensíveis -

Das revoltas.
Não poderia eu
Poeta, sobretudo gente,
Parar as máquinas engrenagens ameaças
Nem compor um verso livre
Embora humano
Que pudesse salvar o mundo.

Apenas um sussurro,
Minhas mãos de menino, em conchas,
Anunciando o gesto
Pouco delicado
Quase surdo
Do tempo de nós.