quinta-feira, junho 28, 2012

Carta Reflexiva e Ponderada Acerca de Renan Rosenstock - Parte I

Hoje é dia 28 de junho. Eu comecei a escrever cartas sobre mim a partir de 2008. A ideia era simples: nos dias 28 de junho, ou seja, a um mês do meu aniversário, escreveria uma carta sobre mim, acompanharia minha transformação ao longo dos anos, serviria de manequim exposto na vitrine para quem quisesse ver, já que nunca fui muito dado a falar sobre algumas coisas da minha vida (embora isso tenha mudado um tanto). Acontece que fui procurar minhas cartas - para mim mesmo - e não as encontrei. Bateu-me um certo desespero: acho que devo tê-las apagado. Não sei porquê. Fiquei com uma vontade de reinventar o passado e recontar minha "história". Mas isso seria falso demais. Recomeçarei a minha auto-análise e, dessa vez, não pretendo apagar.

Meu nome é Renan Marques Mateus. Achei que esse sobrenome não serviria muito para a arte, então substitui por Renan Rosenstock. Além de ser o sobrenome verdadeiro do Tristan Tzara, um cara que admiro muito (pois foi o criador do dadaísmo), também dá um número legal, numerologicamente (segundo a Allê Rodrigues, grande amiga mística). Antes eu assinava como Renan Marx, mas me deu problemas. Se eu fosse um bom sonetista assinaria como Mateus Marques, à moda portuguesa... mas não fui grande revelação pro mundo.
Completo, no próximo dia 28, 24 anos de idade. Hoje acho possível dizer que "a vida começa agora". Ou que a vida está sempre começando e acabando. Prefiro acreditar que são começos, porque finais cansam demais e depois a gente fica num vácuo. Tenho aproveitado bem esses anos de uns tempos pra cá. Apesar de tanto reclamar (o que eu acho que vem desde muito cedo, porque minha mãe diz que eu chorava demais quando pequeno) e, apesar desse tom meio pessimista que assumo, ainda acredito em algumas coisas. Na verdade, assumi a mesma postura que um cara que vi certa vez, chamado Franketienne, escritor haitiano (não tem nenhuma obra traduzida pro português), que diz que é um "desesperado", porque "esperar" não é uma boa atitude, o negócio é viver e ver qual é. Eu vou chegando aos 24 com um papo meio auto-ajuda, parece, e isso me incomoda. Mas não quero pensar muito sobre isso.
Eu ainda não consegui me formar na faculdade, embora falte apenas uma disciplina. Vou pra 6 anos de curso. Dois anos a mais do que o necessário. Mas não tenho me importado muito, sei que essas coisas acontecem. Foi bom, por um lado, porque esse ano consegui pegar as disciplinas de Filosofia da Linguagem e a de Antropologia da Arte. Eram duas coisas que eu gostaria de ter feito mas não me sobrava tempo. Acho que vou sair "bem formado". Não sei se vou pro mestrado, doutorado, carreira acadêmica. Acho atraente pela questão salarial, mas só. Também penso em começar outra graduação: antropologia. Era o que eu buscava inicialmente, mas não queria ter que fazer ciências sociais.
Trabalho num lugar chamado Centro de Referência em Direitos Humanos. Sou estagiário (imagina só...). Gosto de lá e gosto dessa área. É algo em que eu me especializaria. Também dei algumas aulas particulares, corrigi umas redações e dei aulas num cursinho. Esse ano foi o ano em que mais consegui trabalhar, desde que comecei, lá em 2007. Eu dei algum tempo de aulas e acho que, de certa forma, me encontrei. É bastante interessante preparar aulas, tentar quebrar essa barreira professor-aluno, ver que se interessam quando a gente consegue dar um outro tom pras aulas. Pretendo continuar por aí, sendo chamado de "muito louco" pelos alunos.
Sou leonino com ascendente em capricórnio e lua em aquário. Isso significa: caráter em fogo, aparência em terra e emoção em ar. Isso significa: arrogância, impulsividade, obstinação, firmeza, liberdade, horror à pressão. Tenho um problema meio grave (para a maioria das pessoas): a lua em aquário - nada de pressão, nada de possessividade - e o Vênus em gêmeos: relações fluidas, ninguém é de ninguém, amor tendendo a ser tranquilo e de várias pessoas. Claro que nem sempre foi assim, claro que "cada caso é um caso" (eu me envergonho de ser tão clichê, às vezes), mas tudo caminha para ser. Ando muito mais tranquilo e mais equilibrado emocionalmente. Também ando muito mais desapegado, o que pode gerar certos conflitos. Mas isso é como eu me vejo. Não significa, necessariamente, que seja verdade. Pode ser que eu seja um louco possessivo que faz pressão e que mataria por ciúmes. Será?
Essa junção de signos fez com que eu decidisse, desde muito tempo, não ficar parado em um lugar só. Em menos de um mês estarei indo pra Florianópolis. Nunca me imaginei morando lá. Vai ser uma "aventura" bacana e meio fora dos planos tão concisos feitos ao longo dos anos. Mas não garanto que vou parar por lá a vida toda. Tenho um sentimento meio cigano, eu acho. Mas, por hora, sair de Cuiabá é necessidade. Essa carta será dividida em duas partes. A próxima parte será escrita no dia 28 de Agosto - um mês após o meu aniversário - e aí, longe, conto melhor como é morar fora.
Moro aqui desde sempre. Nasci, inclusive, num hospital que fica relativamente próximo à casa. Eu que sempre gostei de viajar (sei que essa cultura vem dos meus pais, porque todo ano, desde que nasci, íamos/vamos para o Paraná, especificamente Ivaiporã e Apucarana, visitar a família. Meu pai foi o único a vir pra tão longe, inclusive) e ficar há 23 anos morando na mesma casa me deixa bastante cansado. Viajei para alguns lugares, mas nunca saí do Brasil. Um dia, quem sabe. Apesar de tudo, eu gosto dessa casa. Gosto do valor simbólico que ela tem pra mim. Gosto da goiabeira e dos mamoeiros e lembro, com uma nostalgia forte, das plantas que tinham nessa casa: goiabeiras, um pé de romã, tinha orelha-de-elefante, abacateiro, cajueiro. Na varanda eram três sete copas e um pé de hibisco enorme. Meu pai me ensinava a chamar passarinho. Cresci num lugar legal e, se um dia tiver uma casa, espero que ela seja tão cheia de plantas quanto.
Tenho uma boa memória fotográfica. Gosto de detalhes. E de cores e cheiros e sons. Gosto de pouca coisa e não preciso de muito na vida. Preciso dos meus amigos, que estão sempre por aí. Também preciso conhecer lugares novos e gente interessante. Fora isso, as coisas vão se organizando.
Gosto de música. Não sou eclético. Não vou mentir: Escuto raça negra, lindomar castilho, conheço alguns funks e alguns sertanejos música-de-corno, e tal. Acho que muita gente também conhece mas se nega a admitir. Eu separo meu gosto por "pastas de música que eu tenho", que são as coisas que realmente gosto (e aí inclui-se Alcione, Benito di Paula e bandas anarquistas - coisas não muito cults) e outras coisas que ouço por aí, pela rua. Vou da bossa nova, passando pelo jazz e pelo blues até o punk rock. Mas tem coisas que, definitivamente, não ouço. Gosto de tocar violão, apesar de não saber. E gosto da escaleta que eu comprei. Não consigo ficar um dia inteiro sem ouvir música, por exemplo. É uma necessidade. Gosto muito de arte. Muito de poesia e muito de literatura. Acabei de ler Gullar. Gosto muito de filmes. Tem gente que acha que eu sou pseudo-cult. Eu acho que não. Até porque acho meio complicado falar em "pseudo" alguma coisa.
Não sou uma pessoa fácil de lidar. Sou chato pra caramba. Só os amigos me aturam. Não sou muito chegado em muita gente, também. Às vezes, meu mau humor é deprimente. Às vezes, minha babaquice é deprimente.
Também não me acho um cara bonito. São 1,74 e 65kg de pura indolência. Ainda não consegui dinheiro pra fazer todas as tatuagens que quero. Tinha um piercing no nariz, mas tirei, perdi e agora só furando de novo. Tenho alargadores. 10mm. Já pensei em aumentar, mas não sei, não. Meu cabelo está estranho. Fiz um moicano e não ficou legal. Aliás, acho que foi uma mudança bacana. Nunca tinha cortado o cabelo assim. Tirei a barba. Só que continuo com essa cor esquisita. Também continuo com os velhos hábitos nada saudáveis: bebo e fumo. Sou meio da boemia. Meio sem hora pra chegar. Gosto disso, porque meus amigos também são assim.
Estou solteiro há dois anos. Não pretendo namorar de novo tão cedo. Gosto de descobrir gente nova e me encanto fácil por muita gente. Nunca beijei - até agora - nenhuma ariana. Gosto de saber sobre signos, também. Não me vejo casado (mas já pensei, e muito, sobre isso) e nem quero ter filhos - o que, pra muita gente, é um disparate sem tamanho. Eu gosto bastante de crianças. Tenho 3 sobrinhas e 1 sobrinho (e está vindo mais um por aí). Mas não pretendo ter filhos. Não me considero uma pessoa muito "família". Por isso não pretendo namorar. Isso não significa que eu seja cafajeste. As garotas sabem como eu sou. No entanto, gosto muito de mudar de opinião. Então pode ser que isso mude logo (é o Vênus em gêmeos). Ou não.
Não sei se tenho mais alguma coisa pra contar. Então é isso.

- escrito ouvindo: The Cure - The Wish e The Smashing Pumpkins - Mellon Colie e Infinite Sadness "Twilight To Starlight"