Tua pele já não guarda a festividade da juventude.
Também não há em teus olhares a curiosidade
E a pressa, características das mais novas,
Que acabam de descobrir sorrisos incastos
[e veleidades todas.
[e veleidades todas.
Tua boca, Senhora, plangente e misericordiosa,
Abriga um afeto não dito, receoso e murmurante.
Te aninhas no cansaço do dia e sonhas, talvez,
Com alguma bobagem romântica.
Mas teu corpo, Senhora, se me permites dizer-lhe,
Recende amor maduro, talvez já colhido tantas vezes
Nos anos em que caminhaste errante pelas sendas
Da vida, pelas bocas de uns homens, pelo sexo
Marcado e o prazer.
Quisera, Mulher, dar-te uns versos pobres,
A ti que não verei nunca mais.
Na lembrança que carrego de ti, olhos, boca
E também teus cabelos, dourados como
Os planos dos que ainda vivem,
Os planos dos que ainda vivem,
Cantarei secretamente meu solene verso atrasado:
Pois vieste ao mundo, Senhora, e não fui eu quem
[te acolheu quando choravas.
[te acolheu quando choravas.
Também não recebi de tua boca a notícia
Do amor, Senhora, dito em tantas ocasiões
[a tantos outros homens.
[a tantos outros homens.
Mas nada te pediria que não fosse apenas
Os eflúvios da consolação, teu colo paciente
E uma mordida dessa tua fruta, Senhora,
Para o coração machucado de Tempo¹
¹Hilda Hilst.Verso da estrofe IX, contido em Da Noite(1992).