sábado, maio 05, 2012

Experiência poética N°3 - o poeta cinge o espaço

O poeta é a folha amarelada
dessa vida, árvore ordinária.
Não se desprende dela, posto
que precisa da saliva,
mas também não se lança ao vento
- abandono do tempo.
O poeta sonha:
tão longe é o céu, tão curta é a vida.
E ama:
tão longa a incerteza, tão próximo o peito.

A poesia vem de vias públicas,
de carros bailando no engarrafamento,
de bandeiras flamulando na tarde -
insígnia desbravando o cotidiano.
A poesia vem da visão embaciada,
do amor feito estilhaço
ou do tempo que paira sobre a rotina
das nossas circunstâncias.

Mas o poeta é pedra atirada à revelia.
É poeira rompendo o espaço,
gota de água no marejo dos olhos da
cidade.
O poeta é o desvio do caminho
o atalho perdido que conduz ao relento
dos sentimentos.

Haverá o tempo,
quando a vida for insuportável,
quando o mundo já não servir para os sonhos,
mas apenas para a toante desilusão,
em que o poeta rasgará o verso:

Gritará, a plenos pulmões, todos os verbos
que lembrem as possibilidades de felicidade.
E, no meio da tarde confusa,
Será a voz da calmaria, do amor, da beleza
brincando serena sobre a pele do mundo.