terça-feira, abril 08, 2014

Os covardes III

era pra te ver voltando
tola diacrônica 
na incipiência dos teus porquês
valendo-se arguta dos pormenores
que ignorei

era pra te ver lugar-comum
depois de tantos anos
eu cresci em você e você
debandando
nosso barco-de-papel
nossa casa e nosso fruir
e depois
logo hoje
era pra te ver

você eu e o fosco céu
na sagração dos nossos pecados
adultos 
barba-na-cara
você tão mulher
decidida-a-ser

chega depois de tantos anos
e tantos copos pra te esquecer e
tantas outras-que-não-eram-você
com esse seu mesmo jeito de sempre

(como eu poderia esquecer?)

e eu escondo o aceno
enterro a mão no bolso
você atende o celular
- parece ocupada, sempre quis parecer
e de canto de boca eu sorrio lembrando
do quanto nós deixamos de amar
covardes como poderíamos ser

você passa. me viu. ignoramos a hipótese
o colo o beijo o grito a hora.

talvez quem sabe no futuro quem sabe nunca.