terça-feira, abril 02, 2013

cotidiano

                              "O destino do poeta é coisa dele"
                                                              Jards Macalé


o poeta acorda cedo
seis da manhã
levanta-se
o mesmo pijama de sempre
arruma o lençol de véspera
e vai preparar o café
mesma medida para
todas as ocasiões
caminha com passos de gente
abre as janelas da sala
um verso escapa-lhe pelos olhos
livre
disposto a salvar a humanidade
o poeta destranca a porta
à varanda
um verso escorre-lhe pelo pescoço
crispa-o
impetuoso
quer incendiar a vida e propagar a loucura
outro verso
vindo de não sei onde
choca-se contra o corpo do poeta
e outros e mais outros
até que o poeta se recolhe de volta à casa
é preciso respeitar o acaso
aliviar as penas
engolir seco:

nasce um poema.