quinta-feira, janeiro 30, 2014

autorretrato

ouvi na vida: é preciso ter foco
mas eu
que enxergo embaçado
meio míope e quase estrábico
encontro, no borrado das circunstâncias
a matéria da minha poesia

tenho um nome nada grandioso
e ajuntei quinquilharias ao longo dos tempos
não sirvo pro trabalho pesado
criei meu mundo em um dia
descansei
joguei conversa fora
e arrumo minhas tralhas de maneira irregular

- acomete-me dizer que sou gente por acaso

adula a noite meus tortos pensamentos
(sonho com acasos outonos puderas & silêncios)
vou sempre no meu rumo
sem nem ter pra onde ir
e canto às vezes
para um dia colorido

e ouço, sempre:
"é preciso saber o que se quer da vida"
minha carne sente o gosto das palavras
e faz pouco
do que não se pode ser

mas tenho em mim um bicho manso
que galopa, se entrevê
e não deixa meu corpo parar:

- nele eu monto, cela firme
e atravesso campos de intempéries
à procura de remanso.






sábado, janeiro 11, 2014

Os covardes II

eu era garota
no máximo uns 17
- lembra daquele tempo?
eu te esperava encostada no muro da escola
jeans e pose de descolada
fumava meu holly-menta
no máximo 10
pouca grana
- lembra?
e você chegava todo macho
era um moleque
falava de poesia
de como mudaria o mundo com sua arte
e eu esperando só a hora da morte
a gente conspirava
sexo às vezes

(- e aquele papo todo
de amigos e você apaixonado pela
Marcela, por mim tudo bem, não pra você, né?-)

mas éramos covardes
descobrindo-se aos poucos
desengonçados nesse lance
de amor
e você ia embora com Marcela
- justo a Marcela! -
eu pensava
era garota com meus 20 holly-mentas
17 no máximo
covardes e você me deixando

voltando a essa hora
- foi tanto tempo assim? -
pedindo abrigo
querendo arrego
escondendo a solidão
pra quê?
deixando claro o que eu prefiro escuro

-vai!