quinta-feira, outubro 25, 2012

valsa para uma cena

quando você se perde
quem te procura
senão eu?
e quando você se encontra
e quando você se esconde
e quando você se toca
sou eu por aqui
fazendo sala
festa
drama
& fita.



terça-feira, outubro 23, 2012

passagem no tempo III

ela queria amor
dei-lhe um beijo e três reais
pedi que comprasse
pão com mortadela
e suco de caju

ela insistia
e eu também:
que o troco viesse em balas mentoladas

aí ela foi
e só pude pensar que
em sua ausência
essa fome toda
- que também é desejo
se configuraria em mim
(coração: parede caiada)
como um rude estêncil
que nos leva a refletir sobre algo.

sábado, outubro 20, 2012

o poema que não escrevi

o poema que não escrevi
teria ares de beleza
e falaria de esperança
as gentes todas sorririam
e entoariam cânticos de louvor
às flores que crescem nas cercas
da paciência
seria um salmo um refúgio
seria uma gruta um colo
o poema que não escrevi

viria acompanhado
de um beijo fraterno na boca
do tempo
e uma chance de desejos realizáveis
um sonho exposto na face da
vida
como mãos que se entrelaçam
no abrigo da necessidade

o poema que não escrevi
incitaria uma nova revolução
com armas de papel e gritos
e frêmitos sussurros paixões
num abraço doce de circunstâncias

o poema que não escrevi
eu o sonhei
e já distante de mim
voa com suas asas de palavras
para longe
para as cirandas da lembrança

segunda-feira, outubro 08, 2012

Mundo, mundo

seria preciso apenas
que o mundo abrisse os olhos
e
piscando algumas vezes
ainda sonolento 
dissesse 
"mais um dia mal dormido"
e se levantasse aos poucos
com seus enormes braços de Terra
tão cansado como seus antepassados
com suas velhas pernas gravitacionais
tão antigas quanto andar pra trás
para que 
qualquer coisa mudasse
chacoalhando a ordem natural
dos homens tão máquinas 

bastaria
- veja só
que o mundo dançasse um rock 
pra gente toda que existe
ficar legal
e ensaiar um passo de civilidade


quinta-feira, outubro 04, 2012

Oração

bastante açúcar no fundo do copo
pouco tempo e grandes sonhos
muita coisa no encardido gosto
e muito plano sob o tapete

assim, como se amanhã fosse um dia distante

derrubando dragões com a língua em pranto
escondemos nas mãos um desejo inflamável
que singra e verte e transborda o acaso
até o descontínuo limiar do convívio

assim, como se amanhã fosse um dia e tanto

já disforme um apito final
o colo suado despachando navios
a saudade do lenço tremulando inevitável
rota de encontro no curso dos olhos

assim, como se amanhã fosse um dia qualquer

passo em silêncio pé ante trajeto
e o vento dos modos nos cabelos cansados
abre teus braços e voa pra perto
e ri desse jeito sem ser ilusão

assim, como se amanhã fosse um dia de mim.