quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Passagem no tempo V

quando criança
não tive amigos:
brincava com o outro eu
de emoldurar olhares.
um sabiá sempre me assistia da goiabeira.
cantava três vezes e eu negava
aquele mundo todo.
um dia, pedi ao próprio deus
que me tornasse poeta.
o sabiá, naquele dia, não cantou, não:
fez foi bicar uma goiaba,
coçar a asa esquerda
e voar pro nunca mais.
entendi, de repente, que
ser poeta é coisa que não se pede.