sexta-feira, maio 22, 2009

Desesperanto

tanto desespero
é um desespero e tanto,
desesperanto,
a língua quedou-se em pranto.
a vida, palavra em canto,
tanto espero, santo
esmero.
Desesperando um brando despertando.

quinta-feira, maio 21, 2009

Peça de amor

a vida me pregou uma peça:
um amor pregado, uma prece.
Uma posse, um poço fundo
que a gente não vê a-raso.
A vida pregou que peça e receba.
Peço, qual o preço?
ávida responde:
"um amor se costura com linha sem nó."
Ora, veja só:
um amor amarrado, é errado amor.
Não se paga pelo colo,
nem se apaga pelo polo.
Amor é ponta de faca furando o desejo,
vejo aqui uma
solução:
se há amor, não tem pressa.
É peça que a vida pregou.

segunda-feira, maio 18, 2009

poema Com-(de)creto de amor

dois copos nus
corpos nas
capas.
Rei de copas,
errei tuas cartas.

Nossos peitos entrejuntados,
nossas mãos entrecortadas,
nossos olhos entre, fique a vontade.

No sofá roxo-sala(da), somos uns e outros.
No escuro das noites termogênicas, sono & amor.

sexta-feira, maio 01, 2009

O trabalho

Um sol fraudulento
se fixava no céu,
com seu habeas corpus.
Era um dia trabalhoso
de sombras verticais
e verdes constrangidos.
Eram animais conflituosos e
águas turvas.
Então veio o homem, com seus costumes,
seus ideais, sua mulher com seus cremes,
seus perfumes, suas vidas.
No firmamento que não era firmamento, o Homem descansou:
Era um feriado pro trabalho.

Fragmentos

Os olhos tristes da fita
Rodando no gravador.
Uma moça cosendo roupa
Com a linha do Equador.
E a voz da Santa dizendo:
- O que é que eu tô fazendo
Cá em cima desse andor?

A tinta pinta o asfalto,
Enfeita a alma motorista.
É a cor na cor da cidade,
Batom no lábio nortista.
O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu da boca paulista.

Cadeiras elétricas da baiana,
Sentença que o turista cheire.
E os sem amor, os sem teto
Os sem paixão, sem alqueire
No peito dos sem peito uma seta,
E a cigana analfabeta
Lendo a mão de Paulo Freire.

A contenteza do triste,
Tristezura do contente.
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente.
São sons de sins, não contudo
Pé quebrado, verso mudo
Grito no hospital da gente.

(Beradêro - Chico César)