domingo, junho 28, 2009

Sobre mim

Carta exposicional e proposital acerca de Renan Marx – um ano depois.

Há exatamente um ano atrás escrevi uma carta como essa. Decidi reconstruí-la, pois percebi que muita coisa, talvez uma vida inteira mude em um ano. Continuo não sendo dado a falar sobre mim, mas senti essa necessidade. Daqui a um mês completo vinte e um anos e temo que esteja indo às vias de fato da “adulteza”.
Me chamo Renan Marques Mateus, mas optei pelo sobrenome Marx, num tom artístico. Não o adquiri por questões políticas ou sociais como associam: a escolha foi pura questão de estilo.
Sou cuiabano de "chapa e cruz" como dizem por aqui. Nasci em Cuiabá e nunca morei em outro lugar. Nunca me mudei, nem de casa. Assim que a oportunidade surgir vou para um lugar frio, ou não. Talvez Curitiba, ou Goiás velho, ou Minas, sei lá.
Sou leonino com ascendente em capricórnio e lua em aquário (pra mim é irrelevante, agora. Decidi não mais acreditar em signo, creio que nós somos muito mais ilimitados).
Me considero um projeto de ator; um quase-poeta; um músico frustrado e um aluno mediano. Faço Letras. Quero um mestrado em Ecolinguística porque vejo a importância do meio ambiente nos processos culturais. Mexo com arte desde os meus 14 anos de idade e pretendo me especializar um dia em cultura popular brasileira. Sou ex integrante do Coral CEFET-MT. Pretendo trabalhar com construção de instrumentos alternativos e aulas de bibliotecagem junto ao pessoal da Resistência Popular - um coletivo social. Integro um grupo chamado Canteiro de Obras, responsável pelo sarau de Letras e responsável por fazer outros saraus.
Não sou um cara fácil de lidar, sou chato. Gosto de política, e gosto ainda mais de discutir política. Realmente gosto de discutir. Sou apartidário. Me encanto muito mais com a subversão de alguns grupos do que com a fala bonita de um político. Não acredito mais em políticas públicas. Não sou consumista, nem pretendo mudar o mundo. Não sou apegado ao dinheiro e não quero ter uma casa caríssima e luxuosa. Não sinto a necessidade de ter um carro do ano e nem de tomar Romanée-Conti no almoço.
Sou vegetariano, e integro o grupo vegcuiabá. Parei de comer carne logo que voltei do Fórum Social Mundial. Mas não sou fundamentalista e estou aberto pra discussão. Já havia sido vegetariano por um tempo, mas voltei a comer carne. Não sou vegetariano por ser tendência, mas por questões sociais e políticas (durmo de consciência limpa, por isso).
Tenho bons amigos e muito do que sou devo a eles. Eu não preciso de muita coisa, mas preciso essencialmente dos meus amigos. Estou afastado da maioria e peço perdão. Estamos sempre juntos, mesmo que não fisicamente. Amigo é uma coisa que aparece bem quando a gente precisa, como salva-vidas. Espero ser um bom amigo, apesar da displicência dos últimos tempos.
Gostava de viajar, mas agora nem tanto: descobri uma coisa chamada “saudade de quem se ama” e as viagens não são mais tão importantes. Acho que eu gostava de viajar porque era uma espécie de fuga de mim mesmo. Agora só quero estar em mim mesmo. É estranho perceber como as coisas mudam. Ainda quero conhecer o mundo, mas se conhecer pelo menos a América Latina, já está de bom tamanho.
Sou cristão. Me “converti” no dia 23 de novembro do ano passado. Me perguntam porquê. Eu responderia com o ditado “o bom filho à casa torna”. D’us é meu alter ego. É a parte limpa em mim. Agora integro a Vinde, um ministério com visão celular. Gosto de lá porque me acolheram bem. Gosto das pessoas de lá porque não me apontam o dedo pra julgamentos. Acho que nunca deixei realmente de crer em D’us. Vi uma frase boa, dia desses: “Não crer em D’us é não permitir-se sonhar”. Acho que é isso. Acho que o cristianismo está meio torto, mas creio em Yeshua e no amor dele, sobretudo no amor dele. Não suporto discutir religião. Tenho amigos ateus e aprendo muito com eles, mas as diferenças são necessárias.
Não bebo, embora já tenha bebido muito. Não parei de beber por ter “virado crente”. Parei de beber depois que li “anarquia e álcool” (sim, eu gosto do anarquismo). Parei de fumar, também. A gente percebe o quanto ganha só depois que para. Faz mais de três meses que não fumo, ou bebo.
Sou flamenguista, mas não assisto futebol com frequência. Andei correndo por uns tempos: a única prática esportiva que acho interessante. Mas por problemas, tive que parar, talvez eu volte. Ando muito a pé, isso deve compensar alguma coisa. Jogo bozó, e queria ser um bom enxadrista, mas falta-me vontade.
Me acho um cara feio. Não gosto de "balada" e gosto menos ainda dessa palavra. Não tenho gostado de sair. Parece que Cuiabá ficou pequena e enfadonha. Me sinto meio velho, deveria ter uns 50 anos.
Gosto de MPB e gosto de rock. Gosto de Chico a Tom Zé, Bethânia à Aydar. Gosto de HC, mas meus gostos variam com o tempo. Ainda tenho discos de death, mas também tenho coisas do Fagner. Gosto de poesia, e vivo poético. Gosto de filmes de drama, e abomino terror e comédia com o ed murphy.
Não sou popular, não falo inglês, não uso roupas da moda nem falo gírias interessantes. Tenho dificuldade em conhecer gente nova e poucos gostam de mim à primeira vista. Títulos: tento fugir deles, mas não consigo. Não faço academia, não uso nike, nem tenho letras japonesas tatuadas no braço. Uso alargadores, meu cabelo está crescendo e tenho uma tatuagem na nuca com duas letras em hebraico.Vou fazer outras tatuagens em breve. Não, não sou revoltadinho, nem rockeiro, nem “bad pride”.
Já fiquei mal por amor, mas agora vivo a melhor fase da minha vida. Deixei essa parte pra falar por último propositalmente: tudo que eu escrevi anteriormente tem parte dela. Namoro há dez meses (dia primeiro agora fará onze meses). Pretendo me casar com ela em 2011 (talvez eu precise escrever outra carta nesse ano). Teremos filhos: ou Arthur, ou Ana Júlia (ou os dois, quem sabe?). Lorraine é a garota a quem dedico meus dias e horas. É quem me faz crescer interiormente. É ela que me arranca suspiros e sorrisos bobos. Pode parecer “encebação” (como já disseram por aí), ou coisa do tipo, mas é sério. Lorraine é um todo em mim. Agora, tudo o que faço é pensando na gente, gosto disso. Sempre fracassei em relacionamentos. Nunca passaram de três meses. Isso me faz crer que “estou no caminho certo” dessa vez. Amadureci, e com isso estou entrando no ciclo natural de vida: daqui a pouco vem o casamento, depois filhos, depois envelhecer juntos, como prevemos. Não é algo distante, é algo construído dia após dia. O que me faz “andar sobre as águas”, o que me faz crer que seremos muito felizes juntos futuramente, é que já somos agora (talvez eu deva escrever uma carta há daqui quinze anos, pra confirmar isso). Nós nos fazemos um bem danado, e isso só cresce. E se eu falo entusiasmado e ofegante, é porque é assim que está sendo e que deve ser.
Acho que disse tudo, ou não, sei lá. O que eu sei é que em um ano muita coisa muda, por mais que não percebamos. Sou um experimento de mim mesmo e isso reflete nas coisas que escrevo. Enfim.

...............................................................Cuiabá, 28/06/09

sábado, junho 27, 2009

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Frio.
A rua lânguida é incoerente.
Um homem me olha da esquina da miséria,
tem um corpo ressabiado e um peito medroso.
Atravesso pormenores e me instalo rumo ao céu.
Há um homem que me olha em sua calçada suja:
tem um corpo pobre, um peito pobre e
Frio.

segunda-feira, junho 22, 2009

Vestido

Móvel vestido agridoce,
dançando entre móveis.
Ela fica bela fica aqui?
Tinha vestido o verde cetim,
beleza sem fim,
Talvez tido sim.
Vês
Tal moça?
Tão bem me faz.

quinta-feira, junho 11, 2009

Rascunho

Vais assim, evidenciando respostas.
Longe, sinto teus pulsos abertos pras minhas euforias,
os meus revogados sentimentos.
Te encontro beira-céu, num dia só, de árvores balançadas.
Tuas mãos, se me espalmam carinhos, são leves e remediais.
Meus olhos incoerentes resvalam meus desejos.
Te encontro só, num dia beira-céu, de árvores figuradas.
Minha boca te chama, irresponsável criança. Você não está.
Entre meus becos, ruas sem saída. Entre e fique à vontade.

Favela

pra favela
sobra farelo,
sob o castelo dos homens de poder.
Sobre a fivela que aperta o cinto,
não há o que dizer.
pro farelo, esfavelado.

segunda-feira, junho 08, 2009

Poema Queimado

Ao amigo poeta

Fogo!
no cinza do tempo,
abrasa as palavras.
Abraça.
Fumaça invadindo o poema,
sujo dilema, vida embaçada.
Sufoca, se foca no céu concreto
de duras penas.
Poema queimado em chamas choradas.
Chamas por alguém
- que não virá.
Vi ira nos olhos, viria com olhos, vi: ria
pros olhos.
Fogo...

terça-feira, junho 02, 2009

Fragmentos

"Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura."

-Caio Fernando Abreu