domingo, abril 14, 2013

Quando brinca o tempo sobre teus modos

dispõe sobre a toalha do tempo
suas cartas seus ensejos
recolhe as migalhas espalhadas
ajunta em pequenos montinhos
as possibilidades estratégias
ainda em cima da mesa
- aquela em que se reúne a família
para os almoços jantares confissões
e depois guarda em
cântaros
os amores as tristezas
e demais sobras
- os inventários heranças
as ninharias acomodadas em alcovas de plástico
serão colocadas no refrigerador
para uso adequado
"porque sempre retomamos experiências anteriores
bem como conclusões, perspectivas, planos"
pensa enquanto organiza potes e mais potes
muito bem tampados
- assim não se corre o risco de perder as essências
os gestos cores e lembranças
e bem conservados a uma boa temperatura
para no futuro servirem
todos esses elementos
de tempero para quaisquer novos sonhos e
poesias.

terça-feira, abril 02, 2013

cotidiano

                              "O destino do poeta é coisa dele"
                                                              Jards Macalé


o poeta acorda cedo
seis da manhã
levanta-se
o mesmo pijama de sempre
arruma o lençol de véspera
e vai preparar o café
mesma medida para
todas as ocasiões
caminha com passos de gente
abre as janelas da sala
um verso escapa-lhe pelos olhos
livre
disposto a salvar a humanidade
o poeta destranca a porta
à varanda
um verso escorre-lhe pelo pescoço
crispa-o
impetuoso
quer incendiar a vida e propagar a loucura
outro verso
vindo de não sei onde
choca-se contra o corpo do poeta
e outros e mais outros
até que o poeta se recolhe de volta à casa
é preciso respeitar o acaso
aliviar as penas
engolir seco:

nasce um poema.