terça-feira, abril 10, 2012

Província

também na província
os tempos são outros
vendedores ambulantes fachadas de lojas
[nuvens sujas carros coloridos música alta
[trânsito parado bancas com frutas hippies
[engraxates gente que vem e que vai sempre
[apressada (um homem lotado de coisas
passa por mim, não o reconheço,
embora saiba
que é um homem
que ganha mal e
que tem muitas contas a pagar.)
só as velhas igrejas permanecem
inalteradas e não disputam com prédios
as alturas
Deus de certo
viria cá admirar a arquitetura
pretensiosa dos edifícios
e seus vidros espelhados
ao melhor modo cosmopolitano
talvez não senhores e senhoras
pois a cidade cresce de um lado pro outro
e cresce pra cima mas
e as gentes crescem pra onde?
as gentes não crescem não
as gentes se enfurnam em roupas quentes
e vão tentar ganhar a vida
seja como for
outras gentes se mudam pra viadutos
são viadutos feitos à mão
por gente também concretada
- olha, o sebastião silva fez violas de cocho!
e o desejo de cores
se confunde com a fumaça
quase preta dos carros
quase homicidas
e o sol tem a cor da estação
looks 
hairs 
70%off  
jeans wear
cabe tudo na cidade
nas ruas tortas da cidade
nos sobes e desces da cidade
na provinciana desordem da cidade