domingo, novembro 25, 2012

Para Ver Teu Nome

Como um encantador de serpentes
Toco a flauta do enigma
Para ver teu nome surgir diante dos meus olhos
Vens e, contigo, as cores inauditas
Teus sons se arranjam em minha boca
E pronuncio, também, os silêncios que trazes
                                     [junto aos teus gestos
É o que escondes e que não traduzo
- por paixão e displicência -
Que nos envolve em circunstâncias impronunciáveis.

E logo chega o tempo em que irás num adeus
                                                             [silencioso.
Te aceno - escuro velando nossos perímetros
E me consolo junto ao mar:
Relembro versos amigos
Areia dispersa na ampulheta dos meus tempos
E sinto, marulhando nos meus olhos
As tuas ondas que se encerram em mim.

Mas será tarde, creia, quando,
Enrolada em noite de estrelas,
Apressarás teus passos para suprimir o futuro.
Terei escondido teus significados
Em uma caixa de pandora qualquer
Devotando, assim, à tua sagrada ausência
Algum pequeno, quase breve, suspiro idiossincrático.

quinta-feira, novembro 08, 2012

Shine on you crazy heart

tive um futuro poético incrível
era eu sendo laureado com mil
cabeças todas elas "pensantes"
se estapeando para ser a crítica
(e dinheiro nenhum)
mas o que importa é que eu tive
um futuro poético e até aqueles
programas infames da TV queriam
saber sobre minha arte
mas isso era coisa lá do futuro-
poético-incrível
hoje ando na rua e perguntam
se está tudo bem
respondo
vai ficar pior
ou mesmo "de boa"
talvez não importe mesmo
vou reclamar com um verso alexandrino
meu futuro poético
assegurado na CLT
com holerite e placa na porta do escritório
escrita em letras garrafais
Renan poeta
mas acontece que poesia é acontecimento
e sou só mais um guri jogando bola descalço na rua.

terça-feira, novembro 06, 2012

Meia-tarde

passas com o passar dos anos
os teus pés espaldando a meia-tarde
atravessas minhas pálpebras
cansadas de cessar guerras internas
como um filme sem roteiro
passas e à beira da calçada
eu poderia estar em qualquer outro lugar
e ver romper o som da tarde em suores
mas há nessa meia-tarde teus passos
teu corpo que se move entre prismas rústicos
o chão evidenciando tua passagem
que eu assisto
junto ao agridoce do dia
e penso
num beijo escondido pelo acaso. 

sexta-feira, novembro 02, 2012

Passagem no Tempo IV

o dia rotina sua engrenagem
e vai se colorindo entre limites
num ciclo de matizes
como os verbos todos
que corporam nossos quereres
nuvens indecisas no tempo inventado
até que chega a noite
ocupada de estrelas
um pensamento - cadente -
me atravessa de instantes
tarde já posso sorrir
te ofereço um sonho
e me desmancho no teu colo de organza

quinta-feira, novembro 01, 2012

Ao poeta que não vivi

Não daria tempo, Drummond
- com as mãos vazias
de te encontrar em um
poema.
A gente se perde
em cada vazio de mundo
que, quando nos damos por nós,
já veio o futuro
à galope
trazer um anúncio decodificado
em palavras outras.
E não há mais como,
meu velho Carlos,
te dizer
como um anjo torto que se soubesse infante
um verso de despedida.