quinta-feira, dezembro 08, 2011

Resistência¹

No fim, o que nos cabe é a resistência. Assim como as raízes resistem à pressão da terra, assim como o caule, os galhos resistem à ação dos ventos, assim como os frutos resistem ao tempo e esperam para ser colhidos. Nesse momento eu nos relaciono novamente às árvores: nascemos e morremos só. Também nós damos frutos, também nós temos galhos. Uns floridos como ipês, outros um tanto mais secos, como as do sertão, mas todos árvores na vida. Resistir é preciso. Resistir às traquinagens das circunstâncias. Ao que nos foge, ao que nos é assegurado, inclusive: é preciso também resistir ao que nos é dado. Resistir é o que me faz continuar vivo. A mim e aos que não se entregam. A própria vida resiste ao mundo. O próprio mundo resiste ao universo e o universo resiste ao sem-fim. Resistir é um ato de amor, sobretudo. Mas não significa, como se pode pensar, que a resistência é "não aproveitar as experiências". As experiências interiores (e acredito que toda experiência é interior e subjetiva) nos ajudam a resistir. No fim das contas, o que nos cabe são as experiências interiores. Amar, sobretudo, é um ato de resistência. Viver é um ato de amor. Experienciar é ser árvore na vida. Ser é resistir. Tudo se move à medida do todo: efeitos inconclusos das coisas.



¹Vem do Latim resistentia, de resistere, "ficar firme, aguentar", formado por re-, "para trás, contra", mais sistere, "ficar firme, manter a posição".