segunda-feira, maio 20, 2013

poema para adeus

de vez em quando
encontro deus ali
pelas ruas do centro
usando um chinelo
velho
tanto quanto sua cara
uma bermuda de sarja
e uma camisa azul
- da cor das dores do mundo
como costuma dizer
deus chora
de saudade da família
e com algumas músicas
que costuma ouvir no bar central
sempre que o vejo
deixo umas notas de dinheiro
caírem próximo aos seus pés
e ele as encontra e ri
mostrando os poucos dentes
- papiros onde se anunciam as leis
e concordamos:
deus é um cara de sorte

na hora de ir embora
-porque o tempo já nos consumiu
e a vida não tá de brincadeira
deus agradece a companhia
meio sem jeito
e eu lhe digo
até a próxima
deus vai indo
com seus passos lentos de eras
e some pra não sei onde
pois no universo tem um canto
escondido pra todo mundo.

segunda-feira, maio 13, 2013

Ao mar, quando embarca meu sonho

Ao mar, quando embarca meu sonho,
Lanço desejos com ambas as mãos.
Mas as ondas tragam e devolvem
Restos de possibilidades em carcaças de conchas.
Um pensamento naufraga:
Disperso entre os delírios das águas.
Uma ave sublinha o céu
- Perdi, certa vez, a inocência do olhar
E alguma poesia dos gestos que se continham
Também escapou voando.
Recordo-me da ausência sentida
Um silêncio atravessava a sala
Ao meu lado, no aparador,
Repousavam objetos do tempo.
Vivi, como se vivem as circunstâncias
Agarradas ao espaço a elas destinado.
Agora, meu sonho partiu novamente:
Aceno:
As ondas tragam e trazem
Murmúrios que se encalham.