domingo, agosto 19, 2012

Para Não Esquecer De Adélia Prado


tento decorar as formas geográficas
o movimento das nuvens planos 
rotas e um céu diferente
tenho um tanto de nomes 
guardados comigo 
e os espalho na rotina
sentimentos conceitos anseios 
vou me transfigurando 
nas novas paisagens
corpo mutável 
língua em movimento
morros ruas & barcos
sou feito de desejos
da noite acobreada
brisa beira-mar
misturo meus modos
às condições do dia
sou massa de carne
que se tempera assim
meio poesia
meio cotidiano

e me chamam poeta
(dessa ocorrência só conheço
os intervalos)
no entanto também sou bicho planta gente
gosto de matéria escura 
nos meus recônditos universos
e confluo
consumo
salivas amores tédio 
numa vida ordinária e misteriosa

assim
se não escuto ao longe
o assovio do futuro 
(melodia familiar mas não tão simples)
ou não consigo ler os rabiscos do passado
me aconchego nos ombros do presente
e recito 
silenciosamente
uns versos de Adélia
com fé e paciência