tento decorar as formas geográficas
o movimento das nuvens planos
rotas e um céu diferente
tenho um tanto de nomes
guardados comigo
e os espalho na rotina
sentimentos conceitos anseios
vou me transfigurando
nas novas paisagens
corpo mutável
língua em movimento
morros ruas & barcos
sou feito de desejos
da noite acobreada
brisa beira-mar
misturo meus modos
às condições do dia
sou massa de carne
que se tempera assim
meio poesia
meio cotidiano
e me chamam poeta
(dessa ocorrência só conheço
os intervalos)
no entanto também sou bicho planta gente
gosto de matéria escura
nos meus recônditos universos
e confluo
consumo
salivas amores tédio
numa vida ordinária e misteriosa
assim
se não escuto ao longe
o assovio do futuro
(melodia familiar mas não tão simples)
ou não consigo ler os rabiscos do passado
me aconchego nos ombros do presente
e recito
silenciosamente
uns versos de Adélia
com fé e paciência