terça-feira, dezembro 20, 2011

II. Para o novo ano

E chegava através dos fogos inimagináveis de artifício
Que coloriam o céu,
E pelas uvas, mesas fartas e promessa de melhoras,
E o “reveillon” ( pra que complicar tanto os nomes?)
Travestido de roupas brancas, e o champagne (...?)
Anunciavam o informe publicitário.
Era o ano que se chegava
em segundos, em contagem regressiva,
repleto de esperança, de superstição e de ano novo.
E o ano farto, fátuo, fortuito, ia-se cabisbaixo:
Acabara seu trabalho com sucesso...

domingo, dezembro 18, 2011

Fumaça

a poesia se acende
como a brasa do cigarro
invade seus pulmões atrás de ar
e você expira fumaça
ritmada
mais um trago de versos
escritos em papel prensado
depois lança fora sua escrita
e as cinzas se espalham pelo chão
o poema te engole seco
esperando que você sonhe
com vida plena

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Delírio

você se excita
com seus versos
o delírio das suas sensações
a possibilidade de prazer
e masturba a poesia
sentindo arrepios
no seu cor-po-esia
você finge orgasmos literários
mas esse poema-porra não é seu
esse gozo léxico
forma-conteúdo
é dos que precisam de inseminação
cultural
já o teu sexo é infectado
e guarda em si a sedição da vida
 
você se toca
seu desejo rígido
amálgama dos sentidos
te nega o amor

terça-feira, dezembro 13, 2011

I. Para as tardes de verão

O céu pincelava-se de um azul doentio,
E os olhos choravam-se, dispersos,
em meio à amplidão da inocência
das nuvens que se transfiguravam de idéias.
O pálido sol irradia luzes indecentes:
Incandescência, adolescência.
E as águas poucas miraculavam
Qualquer um que nelas se banhassem.
Horizonte em chamas, a fumaça do delírio
Que se extraviava das vias de passagem de carros
E cavalos.
E era a tarde de verão que surgia tímida
No espaço vazio, no vácuo da solidão.

sábado, dezembro 10, 2011

Fragmentos


A situação de desterro, de si mesmo e de seus semelhantes, leva o poeta a adivinhar que só ao tocar-se o ponto extremo da condição solitária cessará a condenação. Porque ali onde parece que já não há nada nem ninguém, na fronteira última aparece o outro, aparecemos todos. O homem só, lançado a esta noite que não sabemos se é a da vida ou a da morte, inerme, perdidos todos os liames, descendo interminavelmente, é o homem original, o homem real, a metade perdida. O homem original é todos os homens” (Paz, 1976, p. 85-86).
 
 

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Resistência¹

No fim, o que nos cabe é a resistência. Assim como as raízes resistem à pressão da terra, assim como o caule, os galhos resistem à ação dos ventos, assim como os frutos resistem ao tempo e esperam para ser colhidos. Nesse momento eu nos relaciono novamente às árvores: nascemos e morremos só. Também nós damos frutos, também nós temos galhos. Uns floridos como ipês, outros um tanto mais secos, como as do sertão, mas todos árvores na vida. Resistir é preciso. Resistir às traquinagens das circunstâncias. Ao que nos foge, ao que nos é assegurado, inclusive: é preciso também resistir ao que nos é dado. Resistir é o que me faz continuar vivo. A mim e aos que não se entregam. A própria vida resiste ao mundo. O próprio mundo resiste ao universo e o universo resiste ao sem-fim. Resistir é um ato de amor, sobretudo. Mas não significa, como se pode pensar, que a resistência é "não aproveitar as experiências". As experiências interiores (e acredito que toda experiência é interior e subjetiva) nos ajudam a resistir. No fim das contas, o que nos cabe são as experiências interiores. Amar, sobretudo, é um ato de resistência. Viver é um ato de amor. Experienciar é ser árvore na vida. Ser é resistir. Tudo se move à medida do todo: efeitos inconclusos das coisas.



¹Vem do Latim resistentia, de resistere, "ficar firme, aguentar", formado por re-, "para trás, contra", mais sistere, "ficar firme, manter a posição".