sexta-feira, maio 01, 2009

O trabalho

Um sol fraudulento
se fixava no céu,
com seu habeas corpus.
Era um dia trabalhoso
de sombras verticais
e verdes constrangidos.
Eram animais conflituosos e
águas turvas.
Então veio o homem, com seus costumes,
seus ideais, sua mulher com seus cremes,
seus perfumes, suas vidas.
No firmamento que não era firmamento, o Homem descansou:
Era um feriado pro trabalho.

Fragmentos

Os olhos tristes da fita
Rodando no gravador.
Uma moça cosendo roupa
Com a linha do Equador.
E a voz da Santa dizendo:
- O que é que eu tô fazendo
Cá em cima desse andor?

A tinta pinta o asfalto,
Enfeita a alma motorista.
É a cor na cor da cidade,
Batom no lábio nortista.
O olhar vê tons tão sudestes
E o beijo que vós me nordestes
Arranha céu da boca paulista.

Cadeiras elétricas da baiana,
Sentença que o turista cheire.
E os sem amor, os sem teto
Os sem paixão, sem alqueire
No peito dos sem peito uma seta,
E a cigana analfabeta
Lendo a mão de Paulo Freire.

A contenteza do triste,
Tristezura do contente.
Vozes de faca cortando
Como o riso da serpente.
São sons de sins, não contudo
Pé quebrado, verso mudo
Grito no hospital da gente.

(Beradêro - Chico César)