quinta-feira, julho 05, 2012

Elegia indelicada

vem, meu amor
galopando sobre a madrugada
com tua língua bendizendo
nosso sexo
traga nas mãos nossas armas depostas
espalhe nossos versos pela
claridade da noite
e te apressa pois são vorazes
as bocas do mundo
para devorar-te aos poucos
quando chegares, amor
arrancarei tuas asas
com meus dedos impregnados de eras
e beijarei tuas feridas
até que te cures de ti e de mim
desposaremos a noite fria
e os cães ladrarão à loucura
dos nossos espectros transfigurados
em meio à luz da saudade
partirás, então, amor
e levarás contigo todos os quereres
amarrados em teu cabelo
e já quando amanhecer
interpretarei teus rastros sobre a escuridão
amarei tuas pistas e coordenadas
mas não mais te verei
já perdida pela luz do dia
partirás, amor
mas deixarás teu cheiro claro de alfazema
a lembrança de teu ventre florido
e as sempre-vivas espalhadas sobre nossa cama
de ti não guardarei lembranças
e teu nome será sempre secreto em minha boca
de quando em quando rasgarei minha pele
à procura de ti
ou mesmo vasculharei teus pertences
esquecidos sobre a nódoa do meu tempo
não bastando
deitarei meu ouvido sobre essa terra infértil
e esperarei, amor, teu galope confuso
como a tarde invisível que sorri para nosso
acaso.