domingo, agosto 19, 2012

Para Não Esquecer De Adélia Prado


tento decorar as formas geográficas
o movimento das nuvens planos 
rotas e um céu diferente
tenho um tanto de nomes 
guardados comigo 
e os espalho na rotina
sentimentos conceitos anseios 
vou me transfigurando 
nas novas paisagens
corpo mutável 
língua em movimento
morros ruas & barcos
sou feito de desejos
da noite acobreada
brisa beira-mar
misturo meus modos
às condições do dia
sou massa de carne
que se tempera assim
meio poesia
meio cotidiano

e me chamam poeta
(dessa ocorrência só conheço
os intervalos)
no entanto também sou bicho planta gente
gosto de matéria escura 
nos meus recônditos universos
e confluo
consumo
salivas amores tédio 
numa vida ordinária e misteriosa

assim
se não escuto ao longe
o assovio do futuro 
(melodia familiar mas não tão simples)
ou não consigo ler os rabiscos do passado
me aconchego nos ombros do presente
e recito 
silenciosamente
uns versos de Adélia
com fé e paciência



3 comentários:

obumbradovermelho disse...

e um final lindo.

Ulisses disse...

Renan, percebi em meu blog algumas visitas do teu, e resolvi vir aqui para conhecê-lo. Estou muito surpreso com os teus poemas, são muito bons. Esse sobre a Adélia Prado me atingiu em cheio. "sou massa de carne
que se tempera assim
meio poesia
meio cotidiano

e me chamam poeta
(dessa ocorrência só conheço
os intervalos)
no entanto também sou bicho planta gente
gosto de matéria escura
nos meus recônditos universos
e confluo
consumo
salivas amores tédio
numa vida ordinária e misteriosa." Juro que gostaria até de ter escrito esse trecho entre aspas! Posso postar esse poema em meu blog? Se puderes, mande-me uma resposta para o meu e-mail: ulisses.borges@yahoo.com.br Bom ter te descoberto, mas fiquei curioso para saber como tu me descobriste antes. Até! Um abraço.

Alle Rodrigues disse...

Nan, o que posso dizer... teus versos estão, a cada dia, deliciosamente mais densos.