quando Eva me pariu
mal sabia ela
que a dor maior
- a existencial
viria parcelada
pelos séculos
às suas descendentes.
rasguei o ventre de minha primeira mãe
e saí me derramando no mundo
as dores do parto resignaram-na
moça solteira prenhe de filho pardo
o pai não se sabe
alento não tinha
no entanto
como todo acaso
que transforma o mundo
num espetáculo plausível
ao romper a placenta
vazou de súbito
a poesia escondida
jorrou aos montes
encobriu as várzeas
e me afogou num morno
percebimento
da vida ao redor.
quando Eva me pariu
jogou no mundo toda a cor
que era de sangue
e terra
que era verso e sombra
nesse chão agreste
que deus nos deu.
4 comentários:
Só acho você um poeta de primeira qualidade. As imagens são lindas/chocantes, e o sentir impregnado da expressão da expressão da realidade, que sabe-se lá se é ou não real.
Manuscritos de sal e dor.
Lindo...meus parabéns!
Pelo texto e por seu aniversário! ;)
Abraços.
Nossa! Um dos poemas mais lindos que já li!!!
Meudeusdocéu Nan! Um dos mais lindos! *.*
Postar um comentário